Especial:
Mês do Folclore
O folclore brasileiro é sinônimo de cultura popular brasileira, e representa a identidade social da comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais; é também uma parte essencial da cultura do Brasil. Embora tenha raízes imemoriais, seu estudo sistemático iniciou somente em meados do século XIX, e levou mais de cem anos para se consolidar no país.
Sendo composto por contribuições as mais variadas - com destaque para a portuguesa, a africana e a indígena - o folclore do Brasil é extremamente rico e diversificado, sendo hoje objeto de inúmeros estudos e recebendo larga divulgação nacional e internacional.
Pintura de Almeida Júnior retratando um casal cantando ao som da viola. Uma tradição musical de raízes milenares.
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Relação do Folclore e as manifestações artistas
O estreitamento de laços entre o Folclore e as manifestações artísticas no Brasil, entre elas a literatura, e a consequente atenção da elite nacional, teve início em meados do século XIX, em pleno Romantismo. O movimento cultural tinha, entre suas características, a consagração das tradições e cultura popular dos povos como objetos dignos de atenção intelectual. Acompanhando a mesma onda de interesse pela cultura popular que crescia no exterior, alguns estudiosos brasileiros passaram a pesquisar as manifestações folclóricas nativas e publicar estudos, lançando no país os fundamentos do folclorismo, a disciplina que estuda o folclore.
A partir de um primeiro interesse pelas tradições orais, depois se passou a estudar a música, e mais tarde as festas, folguedos e outras manifestações. Ao mesmo tempo, diversos artistas ligados à elite passaram a empregar elementos da cultura popular na criação de suas obras como parte de um projeto, estimulado e desenvolvido pelo governo de Dom Pedro II, com o objetivo de contribuir para a afirmação do Brasil entre as nações civilizadas.
As classes superiores nunca foram inteiramente livres da influência da cultura popular, mas obras como, por exemplo, I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, deram a temas do folclore brasileiro um papel de destaque na arte culta. Desde então o interesse pelo assunto só cresceu, e em várias frentes.
O impulso nacionalista rendeu ainda maiores frutos com o advento do Modernismo, quando o folclore passou a ser visto como a verdadeira essência da brasilidade. Mário de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro, foi um grande pesquisador do folclore nacional. Outros nomes influentes ligados ao movimento modernista, como os pintores Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral e o músico Villa-Lobos, também incorporaram elementos folclóricos em suas obras de maneira destacada. Mário teve a oportunidade de agir oficialmente pelo folclore, criando a Sociedade de Etnologia e Folclore quando dirigiu o Departamento de Cultura do Estado de São Paulo entre 1935 e 1938, abrindo cursos para a formação de pesquisadores.
Mário de Andrade e um grupo de modernistas ao fundo.
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Na década de 1950 essa movimentação se multiplicou em larga escala, atraindo outras figuras ilustres como Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Edison Carneiro, Florestan Fernandes e Gilberto Freire. O movimento folclorista obteve a consagração institucional maior na Comissão Nacional de Folclore, fundada em 1947 por Renato Almeida, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e à UNESCO.
No contexto do pós-guerra, a preocupação com o folclore se inseria nas iniciativas em prol da paz mundial. Este era visto como elemento de compreensão entre os povos, incentivando o respeito pelas diferenças e permitindo a construção de identidades diferenciadas. Em 1958 foi instituída a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, órgão executivo do Ministério da Educação, dinamizando os debates e pesquisas através de comissões estaduais de folclore.
Além da pesquisa requisitou-se a participação das escolas como instrumentos de preservação e disseminação do folclore, pelas possibilidades de vivência "real" das manifestações nas festas e brincadeiras infantis, fomentando a inclusividade, o engajamento na defesa de tradições ameaçadas e a formação de um senso de "fraternidade folclórica".
Reunidos no Rio de Janeiro em 1951, no I Congresso Brasileiro de Folclore, publicaram a Carta do Folclore Brasileiro. Estabeleceu-se também como folclore os fatos sem o fundamento da tradição, bastando que fossem de aceitação coletiva e essencialmente populares, anônimos ou não, derrubando os requisitos de antiguidade, oralidade e anonimato e relativizando a condição de tradicionalidade.
A partir de 1961 os folcloristas passaram a contar com um importante meio de divulgação e discussão, a Revista do Folclore Brasileiro, que circulou até 1976 totalizando 41 volumes, e se tornando um catalisador de pesquisas. Mas apesar das conquistas do folclorismo nacional, ainda lhe faltava credibilidade, o que só seria conseguido quando ele penetrasse nas universidades. Mas a tentativa não foi bem sucedida, e o folclore foi gradativamente sendo afastado do modelo acadêmico que se consolidava, cristalizando-se como um subcampo das ciências sociais. A situação ficou pior com o golpe militar de 1964, que ocasionou a demissão de Edison Carneiro, o principal folclorista daquele momento, do cargo de diretor da Campanha, fechada no dia primeiro de abril com um cartaz na porta que dizia: "Fechado por ser um antro de comunistas". Com isso se encerrava todo um ciclo do folclorismo brasileiro.
Monteiro Lobato - incorporou elementos do Folclore em suas obras infantis
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Personagens do "Sítio do Picapau Amarelo - Edição Russa - década de 40
A Campanha foi finalmente reaberta e incorporada à Funarte, transformando-se em 1979 no Instituto Nacional do Folclore. Em 1990 o Instituto passou a ser denominado “Coordenação de Folclore e Cultura Popular”, hoje chamado “Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular”, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Desde sua retomada anos 60-70, a modernização da sociedade se acelerou e aprofundou. A televisão entrou decisivamente no cotidiano, e ao contrário do que temia a Campanha em seus primórdios, o folclore não acabou, mas adaptou-se e transformou-se, assim como continuaram em mudança seus conceitos e práticas.
Em 1995, numa revisão da Carta do Folclore Brasileiro, realizada no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, reunido em Salvador, os folcloristas brasileiros definiram como fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade". Aceitação coletiva por ser uma prática generalizada, uma identificação coletiva com o fato; tradicionalidade como uma continuidade através das gerações, onde os fatos novos se inserem sem ruptura com o passado; dinamicidade se refere à sua feição mutável, ainda que baseada na tradição; funcionalidade, por existir uma razão para o fato acontecer e inserido em um contexto dinâmico e vivo. Pode-se acrescentar a esses a espontaneidade, já que o fato folclórico não nasce de decretos governamentais nem dentro de laboratórios científicos; é antes uma criação surgida organicamente dentro da cultura de uma certa comunidade. Também deve ser regional, ou seja, localizado, típico de uma dada comunidade ou cultura.
Apesar da existência destes critérios, muitas vezes é difícil determinar se um fato é ou não folclórico. Pois o elemento folclórico não está tanto no fato concreto, mas em seu entendimento como folclórico, e por isso a definição do que é folclore varia com o tempo.
Rendeira de bilros no Ceará
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Esculturas de Lampião e Maria Bonita em Caruaru
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Ex-votos na Basílica de Aparecida
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O resultado dessa evolução continuada é que atualmente o folclore brasileiro se elevou a uma posição de destaque. Além de ser a base alimentadora de boa parte do turismo cultural do país, dinamizando comércio, indústria e serviços, se tornou instrumento de educação nas escolas, tem museus para ele e está protegido por lei, sendo considerado um bem do patrimônio histórico e cultural do país. A Constituição do Brasil protege o folclore através dos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro.
Por outro lado, como se observa em outras partes do mundo, o folclore brasileiro está experimentando modificações importantes em virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias de registro e difusão de informações, ocasionando a descaracterização de muitos fatos folclóricos e sua transformação em espetáculos de massa, o que está gerando preocupação.
O fenômeno da espetacularização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante também é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas.
Oferendas no culto a Iemanjá
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Classificação do folclore
O Brasil possui um folclore riquíssimo, sendo impossível esgotar os exemplos aqui. Inclui mitos, lendas, contos populares, ritos e cerimônias religiosos e sociais, brincadeiras, provérbios, adivinhações, as receitas de comidas, os estilos de vestuário e adornos, orações, maldições, encantamentos, juras, xingamentos, danças, cantorias, gírias, apelidos de pessoas e de lugares, desafios, saudações, despedidas, trava-línguas, festas, encenações, a gestualidade associada à intercomunicação oral, artesanato, medicina popular, os motivos dos bordados, música instrumental, canções de ninar e roda, e até mesmo maneiras de criar, chamar e dar comandos aos animais. A lista do que é folclore não se limita ao que vem do interior, inclui as expressões próprias da vida em cidades, lendas urbanas, os reclames dos vendedores de rua, os símbolos, modelos de arquitetura e urbanismo vernáculos.
Podemos elencar algumas categorias mais comuns, dando um ou outro exemplo. Muitas expressões têm uma presença nacional, ou quase isso, como o carnaval, as festas juninas, as cavalhadas, a festa do divino e algumas lendas; outras são restritas a regiões e estados ou mesmo a pequenas comunidades esquecidas pelo progresso, como os fandangos de tamancos do interior de São Paulo ou a lenda da Teiniaguá no Rio Grande do Sul.
As manifestações folclóricas são divididas oficialmente em oito categorias:
• Festas populares;
• Usos e costumes;
• Crendices e religiosidades;
• Artesanato;
• Brinquedos e brincadeiras;
• Linguagem e literatura oral (dialetos);
• Música e dança.
“Através do folclore o homem expressa as suas fantasias, os seus medos, os melhores e piores desejos, de justiça e de vingança, às vezes apenas como forma de escapar àquilo que ele não consegue explicar". (descrição do IBGE). Todas essas manifestações se revelam peculiarmente em cada cultura e diferem de região para região, e de indivíduo para indivíduo.
Dança ritual xavante
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Mascarados das cavalhadas de Pirenópolis
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Música e dança
Frequentemente interligadas, existem muitas manifestações musicais e de dança no Folclore Brasileiro. Sejam puramente com instrumentos ou com canto; ritmos de dança, como o cateretê, a polca, o maxixe, o lundu, o baião, o samba, o frevo, o xaxado, o fandango, a vanera, o xote, o maracatu, a ciranda, o jongo, a tirana, a catira, o batuque, o pau-de-fita, a quadrilha, as cantigas de roda. Bem conhecidas, são as cantigas de roda, os acalantos, as modinhas, os desafios, os repentes, as cantigas de trabalho, de velório, as serestas, as modas de viola, as ladainhas, os responsórios, os cânticos sacros, e tantas outras.
Mulheres tocando Abê
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Choro-maxixe Corta Jaca, de Chiquinha Gonzaga
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Percussão de Maracatu
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Apresentação de Grupo de Catira
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Cantico Salutaris - Festa do Divino de Pirenópolis
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Festas e encenações
Algumas das principais festas do folclore brasileiro são o Carnaval, a Folia de Reis, as Cavalhadas, as Festas Juninas, a Festa do Divino e o Congado. Em todas elas várias expressões folclóricas se encontram reunidas, como a culinária, o vestuário, o teatro, jogos e competições, contação de casos e lendas, ritos religiosos, danças e cantos. E sendo festas de grande difusão, se encontra uma infinidade de variantes através do território brasileiro.
Gaúcho no desfile da Semana Farroupilha
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Festival folclórico de Parintins
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Bloco de Carnaval de rua em São Paulo
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Dançarinos na Festa Junina
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Congada
Também chamada de Congo, nasceu entre as irmandades de negros em Portugal, no século XV, recordando as festas que homenageavam a realeza africana, absorvendo também traços católicos. Trazida para o Brasil, teve ampla difusão, mas a festa se fortaleceu na região das Minas Gerais no século XVIII. É uma festa de apoteose e redenção, encenando a coroação do Rei do Congo, acompanhado de um cortejo compassado, cavalgadas, levantamento de mastros e música. São utilizados instrumentos musicais tipicamente africanos, como a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco, que sustentam a batucada. Na celebração dos santos associados, frequentemente São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, a aclamação é animada através de danças, e há uma hierarquia, onde se destaca o rei, a rainha, os generais, capitães, etc. O resto do povo é dividido em grupos de número variável, chamados ternos: Moçambiques, Catupés, Marujos, Congos, Vilões e outros. Cada terno desempenha uma função ritual própria na festa e no cortejo.
Um Congado no século XIX.
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Cavalhadas
Cavalhada é uma celebração portuguesa tradicional que teve origem nos torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros, onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos a sua destreza e valentia. Frequentemente envolvia temas do período da Reconquista. Era um "torneio que servia como exercício militar nos intervalos das guerras e onde nobres e guerreiros cultivavam a praxe da galantaria. Algumas vezes, o enredo baseava-se no livro "Carlos Magno e Os Doze Pares da França", uma coletânea de histórias fantásticas sobre o rei.
No Brasil, registram-se desde o século XVII, e acontecem durante a festa do Divino, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Rei cristão e cavaleiros, nas Cavalhadas de Pirenópolis.
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Folia de Reis
Folia de Reis, Reisado ou Festa de Santos Reis, (em Portugal diz-se Reisada ou Reiseiros), é uma manifestação católica, cultural e festiva, classificada, sobretudo no Brasil, como manifestação folclórica. Comemorativa da festa religiosa da Epifania do Senhor ou Teofonia, que se caracteriza por celebrar a Adoração dos Magos ao nascimento de Jesus Cristo.
A denominação fala dos festejos entre o natal e o Dia de Reis (6 de janeiro) e diz respeito tanto ao "cortejo de pedintes, cantando versos religiosos ou humorísticos, como os autos-sacros, com motivos sagrados da história de Cristo.
No Brasil, sem especificação maior, refere-se sempre aos ranchos, ternos, grupos que festejam o Natal e Reis. Na definição do folclorista Câmara Cascudo: "o reisado pode ser apenas a cantoria como também possuir enredo ou série de pequeninos atos encadeados ou não". Suas cantigas evocam e parafraseiam os textos e eventos bíblicos referentes a estas datas, como se lê em um verso recolhido por Faleiro:
"Oh de casa! Oh de fora!
Que hora tão excelente,
E o glorioso santo Reis,
Que é vem do Oriente...
Oh de casa! Oh de fora!
Alegre este morado,
Que o glorioso santo Reis
Na sua porta chegô...
Aqui está santo Reis!
Fora, Donas!
Procurando vossa morada,
Pedindo sua esmola..."
Mestre Aldenir em encenação de batalha.
Folia de Reis em Crato - Ceará (2015)
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Festa do Divino
Foi um desenvolvimento germânico da festa romana Floralia, que celebrava a renovação da vida na primavera. Introduzida em Portugal pela esposa do rei Dom Dinis, Dona Isabel de Aragão, depois santa, que, segundo a tradição, teve um sonho que lhe indicou um local onde deveria erguer uma igreja em honra ao Divino Espírito Santo. No século XVII a Festa do Divino jé era comemorada em todas as colônias portuguesas, com muitas variantes.
No Brasil, se fundiu a outras tradições: índias, emprestando por exemplo a dança do cateretê, e africanas, entre elas a congada, a marujada, o maracatu. Conforme a localidade, coretos animam as praças, descem os blocos de foliões e bandas de música pelas ruas, correm cavalhadas, dançam bailes de fandangos e quadrilhas, passam em desfile carros de boi enfeitados, seguidos de escolares, devotos e quantos queiram. Outros se entretêm com números circenses.
Vários rituais compõem a festa, que simbolizam relações de classe e onde se perpetuam valores coletivos. Elege-se um "Imperador do Divino" para presidir a festa, lembrando o rei e a corte lusitana; ergue-se um mastro com uma pomba no topo; há procissões com cantorias visitando casas; rezam novena; ocorrem encontros com bênçãos e saudações cerimoniais. Diversas situações rituais são previstas, tendo falas específicas. Por exemplo, se encontram uma vela acesa na casa, dizem:
"Abençoada foi a mão que acendeu aquela vela,
Há de ser abençoada por esta bandeira donzela".
Devoto na festa do Divino de Pirenópolis
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Festa junina
Comemoram os santos católicos João Batista, Antônio e Pedro e são, possivelmente, uma herança de antigas tradições agrícolas pagãs. Vieram com os portugueses, enraizaram-se primeiro no Nordeste e logo se espalharam por todo o Brasil. As referências mais antigas foram dadas no século XVI pelo Frei Vicente de Salvador:
"As fogueiras, os fogos de artifícios, as brincadeiras, o pagamento de promessas e outras tantas crendices, atraiam silvícolas e camponeses à capela. Missas eram celebradas, se contavam histórias, faziam-se adivinhações. Os padres procuravam conquistar aos neocristãos e lhes fortificar a fé católica".
A festa se tornou extremamente popular em todo o Brasil, em parte porque sua data coincidia com a colheita do milho, do feijão e do amendoim, e essa fartura era considerada uma bênção a ser comemorada com danças, cantos, rezas e muita comida. Mais tarde sofreram uma série de outras influências, incorporando novas práticas e se diversificando regionalmente. A quadrilha foi contribuição francesa, o coco-de-roda, africana, as polcas e as mazurcas foram trazidas por imigrantes polacos.
É onipresente a fogueira, em torno da qual se celebra a festa e é dela o símbolo mais conhecido, cuja origem é justificada por uma lenda que dizia ter Santa Isabel avisado a Virgem Maria do nascimento de João Batista acendendo um fogo. Os balões de papel, que antigamente eram soltos em quantidade, serviam para carregar as preces e pedidos aos santos no céu. Também é popular o consumo de comidas e bebidas como bolos de fubá, pamonha, pipoca, meia de seda e quentão, entre muitas outras.
A partir da década de 30, por forte influência do projeto nacionalista de Getúlio Vargas, começou a caracterização do público como caipiras, devendo ocorrer em algum momento a encenação de um casamento caipira, cujo enredo é quase invariável. "A noiva quase sempre está grávida e seus pais a obrigam a casar. O noivo se recusa. É, então, necessária a intervenção da polícia ou do pai da noiva, forçando a cerimônia. Depois o casamento se realiza com o padre fazendo a parte religiosa e, algumas vezes, o juiz, fazendo o casamento civil. A quadrilha é o baile de comemoração do casamento."
Cidade cenográfica do Parque do Povo.
O Maior São João do Mundo - Campina Grande
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Linguagem, literatura e tradição oral
As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:
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Adivinhações;
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Provérbios;
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Quadrinhas;
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Piadas ou anedotas;
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Frases de para-choque de caminhão;
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Trava-línguas;
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Parlendas;
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Lendas;
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Literatura de Cordel.
Adivinhações
Vários livretos de poesia de cordel à venda
Também chamadas de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.
Exemplos:
O que é o que é?
1- Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?
2- Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?
Respostas:
1- A letra M
2- Ovo
3- Ano, mês, dia, hora
Provérbios
Provérbio ou ditado popular ou ainda adágio é uma frase popular, com um texto mínimo, de autor desconhecido, que é várias vezes repetido e se baseia no senso comum de um determinado meio cultural. Tornam-se expressões comuns e se mantêm quase imutáveis através dos anos, constituindo uma parte importante de cada cultura.
Exemplos:
- "Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão";
- "A fome é o melhor tempero";
- "Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão".
Quadrinhas
A Quadrinha é uma espécie de trova de cunho popular típica do Brasil. Suas letras são formadas geralmente por quatro versos, de sete sílabas cada um. Quadrinhas são muito usadas em provérbios populares, adivinhas e desafios.
Exemplos:
- "Trinta dias têm novembro, abril, junho e setembro. Vinte e oito só tem um, os demais têm trinta e um.";
- "O anel que tu me deste Era vidro e se quebrou, O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou";
-"Quero cantar ser alegre Que a tristeza não faz bem, Ainda não vi a tristeza Dar de comer a ninguém;
Piadas ou anedotas
História curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia. No Brasil são muito comuns piadas envolvendo o Joãozinho ou a Mariazinha, personagens supostamente ingênuos, mas de fato espertos e ferinos; as piadas de papagaio, sexo e pescaria, e as ironizando portugueses, mulheres burras ou feias, bêbados, caipiras, padres e homossexuais.
Exemplos:
"Um homem entra numa loja de animais, querendo comprar um papagaio e encontra três idênticos numa gaiola e pergunta o preço: -O da esquerda custa 500 Reais – diz o dono. -Nossa, que caro! Por que vale tanto? -Ele é um papagaio muito especial, sabe operar um computador. -Ah, sei... E o da direita, quanto vale? -Esse custa 1000 Reais. -Nossa, mas por que custa tão caro? -Ah, porque além de saber operar um computador, também domina Windows 98, Unix e Macintosh. -Sei, interessante... E o papagaio do meio? -Esse custa 5 mil reais! -Que é isso! O que ele sabe fazer de tão especial? -Na verdade – diz o dono, - nunca vi esse papagaio fazer coisa nenhuma. Mas os outros dois o chamam de chefe."
Frases de para-choque de caminhão
Frases de para-choque são mensagens escritas à tinta em pára-choques de caminhão ou outros veículos que geralmente se relacionam com alguma característica de seu proprietário. Podem ser frases humorísticas ou religiosas que caminhoneiros pintam em seus pára-choques, sendo uma das manifestações do folclore na linguagem popular.
Exemplos:
- "Trabalho com minha família para servir a sua"
- "Amo minha sogra... bem longe de mim."
- "Não sou pipoca, mas dou meus pulinhos"
Trava-línguas
Trava-línguas é um conjunto de palavras formando uma frase que é de difícil pronunciação Os trava-línguas, além de aperfeiçoadores da pronúncia, servem para divertir e provocar disputa entre amigos. São embaraçosos, provocam risos e alegria.
O uso do trava-línguas na escola
Os trava-línguas fazem parte das manifestações orais da cultura popular, são elementos do nosso folclore, como as lendas, os acalantos, as parlendas, as adivinhas e os contos. O que faz as crianças repeti-los é o desafio de reproduzi-los sem errar. Entra aqui também a questão do ritmo, pois elas começam a perceber que, quanto mais rápido tentam dizer, maior é a chance de não concluir o trava-língua. Esse tipo de poema pode ser um bom recurso para trabalhar a leitura oral. É nessa leitura que melhor se observa o efeito do trava-línguas e, dependendo da atividade, passa a ser uma brincadeira que agrada sempre. Os trava-línguas podem ainda ser escritos para criar uma coletânea de elementos do folclore e pesquisados em diferentes fontes: livros, sites na internet ou revistas de passatempos.
Exemplos:
- "Um tigre, dois tigres, três tigres".
- "Num ninho de mafagafos tem sete mafagafinhos; quem os desmafagafizar, bom desmafagafizador será";
- "O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem".
Parlenda
Parlenda é uma forma literária tradicional, rimada e com caráter infantil, de ritmo fácil e de forma rápida. É usada, em muitas ocasiões, para brincadeiras populares. Normalmente, é uma arrumação de palavras sem acompanhamento de melodia, mas às vezes rimada, obedecendo a um ritmo que a própria metrificação lhe empresta. A finalidade é entreter a criança, ensinando-lhe algo.
As parlendas não são cantadas e sim declamadas em forma de texto, estabelecendo-se como base a acentuação verbal. Os portugueses denominam as parlendas cantilenas ou lengalengas. Na literatura oral é um dos entendimentos iniciais para a criança e uma das fórmulas verbais que ficam, indeléveis, na memória dos adultos.
Exemplos:
Um, dois, feijão com arroz.
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, chegou minha vez
Sete, oito, comer biscoito
Nove, dez, comer pastéis.
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Fui à feira
Encontrei uma coruja
Pisei no rabo dela
Ela me chamou de cara suja
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Era uma bruxa
À meia-noite
Em um castelo mal-assombrado
Com uma faca na mão
Passando manteiga no pão
Lendas
As lendas e mitos brasileiros possuem origem na mitologia dos índios nativos, em conjunto com os mitos trazidos da Europa pelos portugueses e da África pelos negros.
A mescla de diferentes culturas permitiram produzir mitos únicos, mas também é possível observar diversos elementos comuns com mitos de outros povos.
No início do século XIX, as artes brasileiras estão passando pelo Romantismo e muitas das lendas brasileiras passam a ser representadas em poemas, livros e pinturas devido ao movimento nacionalista ocorrido neste período e é neste momento que o autor Monteiro Lobato publica sua obra infantil, a coleção do Sítio do Pica-pau Amarelo, na qual são apresentadas algumas das lendas brasileiras.
Exemplos:
Origem indígena
- Boitatá
- Cobra-grande ou Boiuna
- Curupira
- Macaxeira
- Mapinguar
Origem européia
- Corpo-seco
- Lobisomem
- Mula sem cabeça
- Vitória-régia
- Saci Pererê
- Cuca
Origem africana
- Origem mista ou originais no Brasil
- Boto
- Capelobo
- Iara
- Negrinho do Pastoreio
- Pisadeira
Iara
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Curupira
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Vitória-Régia
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Saci
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Culinária
O Brasil possui uma culinária original, resultado da fusão de uma variedade de influências, principalmente a portuguesa, adicionando-lhe ingredientes e pratos das culinárias africana e indígena.
Os portugueses, além de suas tradições próprias, como a panelada, a buchada, o cozido, o pudim de iaiá, os arrufos de sinhá, o bolo de noiva, o pudim veludo, em virtude das navegações conheceram e introduziram no Brasil o coco, a manga, a jaca, a fruta-pão, a canela, a carambola, o sarapatel, o sarrabulho, trazidos do oriente. Também transmitiram pratos mouriscos como o alfenim. No cozido português se adicionou feijão preto ou mulatinho, carnes salgadas e defumadas, farinha de mandioca e muitas verduras, criando-se um dos pratos mais conhecidos da cozinha brasileira: a feijoada.
Dos índios foi assimilada a farinha de mandioca, os alimentos preparados em folhas de bananeira, as comidas à base de milho, a paçoca, a moderação no uso do sal e dos condimentos, os utensílios de cerâmica, o gosto por alimentos frescos.
Os negros contribuíram por exemplo com o dendê, a pimenta malagueta, o inhame, o caruru.
Na atualidade, cada região brasileira possui os seus pratos típicos.
No Norte, devido à presença de florestas, à influência indígena e à abundância de grandes rios, predomina o consumo de peixes de água doce, de mandioca e de frutas, além de iguarias como a caldeirada de jaraqui, o pato no tucupi, o tambaqui assado na brasa, a cuia de tacacá, o creme de bacuri e de cupuaçu.
No Nordeste são comuns os pratos à base de feijão, inhame, macaxeira, leite de coco, azeite de dendê, peixes, crustáceos e frutas nativas. Os pratos mais populares são a buchada, o sarapatel, a dobradinha, a galinha de cabidela, o quibebe, a carne-de-sol, peixes e crustáceos ao leite de coco, amendoim, canjica, pamonha, munguzá, cuscuz, milho cozido e assado, acarajé, caruru, vatapá, pé-de-moleque, arroz-doce, tapioca, caldo de cana, além de doces de frutas regionais.
No Sul, onde se encontram grandes rebanhos, a população tem predileção pelo churrasco assado na brasa com farinha de mandioca, o prato tradicional da cozinha campeira. Pode também se servido com arroz branco, salada de maionese, saladas verdes e pão. Outros alimentos tradicionais são a tripada, o carreteiro, o chimarrão.
No Rio de Janeiro é famosa a feijoada carioca; o cuscuz paulista se popularizou em São Paulo; em Minas Gerais, os produtos lácteos como o famoso queijo de Minas, requeijões, iogurtes, manteigas e doces de leite, além do pão de queijo, biscoitos de polvilho, goiabada cascão, o tutu à mineira e o feijão-de-tropeiro. No Espírito Santo são apreciados peixes com urucum, assim como a moqueca capixaba. No Centro-Oeste predominam os pratos à base de carne e peixes de água doce, aves e caça do Pantanal, frutas do cerrado como o pequi e erva-mate.
Além das cozinhas regionais, populações específicas, descendentes de imigrantes, também elaboraram sobre suas tradições próprias, como as culinárias italiana, japonesa, chinesa, coreana, vietnamita, alemã, húngara, francesa, polonesa, russa, ucraniana, aumentando a diversidade. A pizza e o macarrão, por exemplo, vieram com os italianos e já foram incorporadas à alimentação cotidiana de muitos brasileiros.
Pratos (influência italiana)
Feijoada (influência africana)
Pamonha (influência indígena)
Brinquedos e brincadeiras
Os brinquedos são artefatos para serem utilizados em atividades lúdicas e/ou educativas, como a boneca, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga, etc. As brincadeiras podem envolver disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, resgate, nunca 3, pique-bandeira, etc. As brincadeiras se modificam de acordo com sua região, pode ser mudar o nome ou então a forma de brincar.
Brincadeira de pular corda
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Bonecos de palha
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Crenças e superstições
Os brinquedos são artefatos para serem utilizados em atividades lúdicas e/ou educativas, como a boneca, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga, etc. As brincadeiras podem envolver disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, resgate, nunca 3, pique-bandeira, etc. As brincadeiras se modificam de acordo com sua região, pode ser mudar o nome ou então a forma de brincar.
Sabença
É um método utilizado para a cura pela imposição das mãos, com oração de permissão (solicitando ao Anjo da Guarda que seja permitida A cura), depois da cura propriamente dita e por fim, uma oração de agradecimento.
Superstição
Superstição (do latim superstitio, “profecia, medo excessivo dos deuses”) ou crendice é um termo pejorativo para qualquer crença ou prática que é considerada irracional ou sobrenatural: por exemplo, se surgir da ignorância, um mal-entendido da ciência ou causalidade, uma crença positiva no destino ou magia, ou medo daquilo que é desconhecido. É comumente aplicado a crenças e práticas que envolvem a sorte, a profecia e certos seres espirituais, particularmente a crença de que eventos futuros podem ser preditos por eventos anteriores específicos (aparentemente) não relacionados. A palavra superstição é freqüentemente usada para se referir a uma religião que não é praticada pela maioria de uma determinada sociedade, independentemente de a religião prevalente conter supostas superstições.
Acredita-se que a prática supersticiosa de colocar um prego enferrujado em um limão afasta o mau olhado e o mal em geral, conforme detalhado no texto folclórico "Crenças Populares e Superstições" de Utah.
Devido às implicações pejorativas do termo, itens referidos na linguagem comum como superstição são comumente referidos como crença popular na folclorística.
Cada agrupamento religioso vê como supersticiosas as crenças que estão fora de suas visões da realidade, o que está em acordo com a definição primitiva da palavra "superstição", derivada do latim superstitio, significando "algo que sobrou", se contrapondo a religião, a palavra latina usada para se referir ao culto aos deuses. No entanto, o que é considerada uma crença perfeitamente aceita por um grupo pode ser visto como supersticiosa por pessoas de outras culturas.
Artesanato
A história do artesanato tem início com a história do homem, que desde logo teve a necessidade de produzir objetos utilitários e adornos, expressando assim sua capacidade criativa e produtiva. Os primeiros artesãos surgiram no Neolítico, quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica e a tecer fibras. No Brasil o processo foi idêntico, sendo os índios os primeiros artesãos brasileiros, com sua habilidade na cerâmica, na cestaria, na pintura corporal e na arte plumária.
A definição de artesanato é polêmica, seus limites são imprecisos e muitas vezes se confunde com a arte. Segundo Barroso Neto, o primeiro é uma "produção seriada de peças semelhantes que são resultantes, normalmente, de uma prática coletiva", ao passo que a segunda é "única, temática e fruto de uma produção individual cuja autoria reclama um nome". Ricardo Lima, por sua vez, enfatiza a necessidade do predomínio do trabalho manual para a definição do caráter artesanal de uma peça.
O artesanato pode se manifestar de várias formas, como na confecção de vasos, panelas e potes de barro cozido e decorado; na funilaria, nos trabalhos em couro e chifre, nos trançados, rendas, bordados e tecidos; em formas de produção industrial caseira, como no fabrico de farinha de mandioca e no monjolo de água; nos instrumentos musicais, brinquedos, esculturas e entalhes, nas bijuterias, e numa infinidade de outras formas. O artesanato brasileiro é um dos mais ricos do mundo, revelando, quando tem características folclóricas, usos, costumes e tradições de cada local. Nos últimos anos o artesanato nacional tem conseguido grande projeção, inclusive para fora das fronteiras do país, dignificando o trabalho dos artesãos. Além disso, por empregar grandes contingentes de mão-de-obra pouco especializada, tem importante função social e econômica, garantindo o sustento de muitas famílias e comunidades.
Cestaria indígena - Norte
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Renda filé - imigrantes italianos - Sul
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Panelas de pedra sabão e cobre - Sudeste
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Bonecos figurando tocadores de pífanos - Nordeste
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Artesanato indígena - barro e sementes - Centro-oeste
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Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Folclore
https://pt.wikipedia.org/wiki/Folclore_brasileiro
E alguns links internos das referidas páginas